No clássico Fla-Flu, padre e pastor de São Gonçalo provam que a amizade supera a rivalidade

Padre Dé (E), torcedor do Fluminense, com o Pastor Laerton, torcedor do Flamengo

Futebol e religião são dois assuntos que costumam gerar discórdias. Mas uma amizade pode surgir até mesmo quando se há rivalidade nos dois casos, principalmente quando falamos do clássico mais charmoso do Brasil: o Fla-Flu. Em São Gonçalo (RJ), a paixão pelo esporte e o trabalho de ajudar pessoas uniram padre Dé, torcedor do Fluminense, com o pastor Laerton, um flamenguista apaixonado.
Hoje, às 18h, a dupla vai estar em lado oposto no duelo entre Flamengo Fluminense, no Maracanã, pelo Brasileirão, mas o dia é especial para o sacerdote, que completa 58 anos e quer uma vitória do Tricolor de presente.
— A lógica é o Flamengo ganhar. Mas tem uma coisa que vai fazer a diferença: hoje é o meu aniversário — diz o confiante padre. — Uma vitória de meio a zero do Fluminense já está ótima.
Enquanto vai celebrar a missa da Igreja Rincão do Senhor , o clérigo vai estar com a camisa por baixo da batina. É para trazer mais sorte. O pastor Laerton sorri com tanto otimismo do amigo, que procurou justamente para mostrar aos seus fiéis da Igreja Evangélica Missionário de Jesus Cristo que, mesmo com religiões diferentes e times contrários, é possível viver com amor.
Padre Dé (E), torcedor do Fluminense, com o Pastor Laerton, torcedor do Flamengo
Padre Dé (E), torcedor do Fluminense, com o Pastor Laerton, torcedor do Flamengo Foto: ROBERTO MOREYRA / Extra
O abraço apertado e o sorriso largos toda vez que se encontram só demonstram que a boa convivência evita uma relação conflitante, além de ser um exemplo.
— Independentemente de religião, queremos mostrar que podemos andar unidos. Isso vai além do futebol também. A amizade ameniza o ódio, mas a rivalidade nunca vai acabar— diz o pastor.
Padre virou a casaca
Se hoje o Padre se sente feliz por ser Fluminense, o mesmo não pode se dizer na infância. Filho de vascaínos, o sacerdócio era torcedor do Botafogo e visou a casaca após uma aposta feita com o irmão tricolor.
— Eu era botafoguense não sei o porquê. Apostei com o meu irmão mais velho em uma brincadeira que quem perdesse mudaria de time. Perdi e hoje, graças a Deus, sou Tricolor — revela Dé, que é padre há 30 anos.
O abraço de Padre Dé (E), torcedor do Fluminense, com o Pastor Laerton, torcedor do Flamengo
O abraço de Padre Dé (E), torcedor do Fluminense, com o Pastor Laerton, torcedor do Flamengo Foto: ROBERTO MOREYRA / Agência O Globo
O pastor se tornou flamenguista por causa do pai, enquanto a mãe também era vascaína. Em casa, não deu opção para as três filhas e muito menos para os quatro netos. Os convenceu a serem rubro-negros após os levar a um jogo.
— Levei meus netos no Maracanã no jogo contra a Chape, que eu sabia que o Flamengo ia ganhar. A primeira vitória sempre marca a vida de uma criança. Quando saímos de lá, eu disse: "Está vendo? É sempre assim". E um dos meus netos disse: "É mesmo! Então vou ser flamenguista". Não tem como explicar. Muita gente fala que futebol é pecado, não é pecado, faz bem – diz o Laerton, que é pastor há 22 anos. Jornal Extra.