Sindicatos chilenos fazem greve geral, enquanto peso despenca

Manifestantes protestam contra o governo de Sebastián Piñera nesta terça-feira em Santiago Foto: CLAUDIO REYES / AFP 12-11-19
Manifestantes protestam contra o governo de Sebastián Piñera nesta terça-feira em Santiago Foto: CLAUDIO REYES / AFP 12-11-19

SANTIAGO - Com barricadas em várias partes de Santiago, uma greve geral convocada por cem organizações sociais começou nesta terça-feira, com o objetivo de pressionar o governo de Sebastián Piñera a aprofundar as reformas sociais e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. Uma grande marcha pacífica pela Avenida Alameda, no centro da cidade, aconteceu no começo da tarde.
Com tambores e bandeiras chilenas e mapuches, os manifestantes dos sindicatos que aderiram ao protesto,  principalmente de entidades públicas, se reuniram na Praça Italia, epicentro das mobilizações, e depois marcharam por vários quarteirões até a sede da Central Unitária de Trabalhadores (CUT) , passando em frente à sede do governo em Santiago. As marchas acontecem em várias cidades, com uma grande aglomeração em Concepción, e não há relatos de vandalismo até o momento.
Apesar de a greve impedir a passagem de veículos em alguns acessos a Santiago, o transporte público continuou a operar com relativa normalidade, tanto o serviço de ônibus quanto o de trens.
Enquanto isso, o peso chileno entrou em colapso e atingiu sua baixa histórica, chegando a superar 800 pesos por dólar, em meio a temores sobre os efeitos na economia da crise social. Desde a intensificação da crise há quatro semanas, o peso acumula queda de 12%. Há incerteza sobre uma nova Constituição, e também sobre quais serão os efeitos que um possível acordo entre a China e os EUA terá sobre as exportações de cobre do país.
A Confederação Nacional de Cobre, que agrupa trabalhadores terceirizados de mineração, também se juntou aos grevistas, mas a empresa estatal Codelco, a maior produtora de cobre do mundo, operava normalmente. O Chile é o principal produtor mundial de cobre, com quase um terço da oferta global, equivalente a cerca de 5,6 milhões de toneladas produzidas por ano.
A greve foi convocada pelo chamado Conselho Social (Mesa Social), que reúne mais de cem organizações sociais, incluindo a Associação Nacional de Empregados Fiscais (Anef), a Faculdade de Professores, profissionais de saúde pública, funcionários portuários e dos aeroportos
As escolas públicas aderiram à paralisação e grande parte das particulares também, algumas por razões de segurança. A maioria das universidades não tem atividades desde o início das manifestações.
Nos setores privados, os apelos da Central Unitária de Trabalhadores,  a maior central sindical do país,  têm pouco apoio, em um país com baixo nível de sindicalização.
A greve acontece em um momento em que Piñera anunciou o início de um processo de mudança da Constituição , que permanece como herança da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Piñera disse que não pretende fazer uma Assembleia Constituinte, conforme exigido pelas ruas, mas o que descreveu como um Congresso Constituinte, cujos detalhes e composição ainda não estão definidos.
Na tentativa de atrair aliados, o presidente se reuniu com o ex-presidente Eduardo Frei (1994-2000) e Ricardo Lagos (2000-2006) e falou por telefone com a ex-presidente socialista Michelle Bachelet, atual alta comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas.
O governo Piñera também chegou a um acordo com a oposição para promover uma reforma tributária que arrecadaria cerca de US$  2 bilhões, destinada a financiar parte da agenda social anunciada para acalmar os protestos.
Os sindicatos exigem reformas mais profundas no sistema de pensões, aumentos no orçamento para a saúde pública, responsável pelo atendimento de quase 80% da população chilena, e incrementos no salário mínimo.
Após quase quatro semanas de manifestações, o golpe na economia foi forte, afetando especialmente o comércio e o turismo.
A Câmara de Comércio de Santiago estimou que, desde o início do surto social, as vendas caíram em média 50% . Após o cancelamento de duas reuniões internacionais (Apec e COP-25), além da partida final da Copa Libertadores entre Flamengo e River Plate, o setor de turismo também disse ter perdido milhões de dólares.
O governo já estimou uma queda no PIB de até 0,5% para outubro. O Globo.