Pressão de Trump sobre Ucrânia foi denunciada por segundo funcionário de inteligência, diz advogado

O presidente americano Donald Trump Foto: SAUL LOEB / AFP 25-9-19
O presidente americano Donald Trump Foto: SAUL LOEB / AFP 25-9-19

WASHINGTON - Um segundo funcionário de inteligência denunciou tentativas do presidente dos EUA, Donald Trump, de forçar o presidente da Ucrânia a investigar o seu rival político Joe Biden, informaram advogados do funcionário neste domingo. O advogado Mark Zaid, que representa o primeiro denunciante, disse que o novo funcionário que se manifestou contra Trump tem conhecimento direto de parte das alegações envolvendo a primeira denúncia que desencadeou um processo de impeachment contra o presidente republicano.
O surgimento de uma segunda testemunha, também protegida por anonimato, complica os esforços de Trump e de seus aliados republicanos de rejeitar a denúncia como um boato movido por intenções políticas e pode fortalecer o caso de democratas contra ele.
Zaid disse em uma reportagem da ABC News que a queixa foi apresentada no dia 12 de agosto ao Inspetor Geral de Inteligência americano e que o novo denunciante já foi entrevistado pelo gabinete do inspetor geral, mas que ainda não se comunicou com nenhum membro dos comitês que investigam Trump no Congresso. O funcionário manifestou a preocupação de que Trump estivesse usando o poder de seu cargo para pedir a interferência de um país estrangeiro na política doméstica de Washington. O presidente busca se reeleger para um segundo mandato no ano que vem.
Não ficou claro se o novo denunciante apresentaria uma queixa formal. Ainda assim, o funcionário afirmou que a suspensão de US$ 391 milhões em ajuda militar para a Ucrânia foi condicionado a uma promessa do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, para investigar um rival democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden, e seu filho Hunter Biden, que na época trabalhava no conselho de uma empresa de energia ucraniana .
"Posso confirmar que minha empresa e minha equipe representam vários denunciantes em conexão com a divulgação subjacente de 12 de agosto de 2019 ao Inspetor Geral da Comunidade de Inteligência", disse Andrew Bakaj, um segundo advogado, no Twitter. Bakaj recusou fazer mais comentários.
O primeiro denunciante, um oficial da CIA que foi detalhado no Conselho de Segurança Nacional, fez uma queixa de que Trump usou seu poder para pressionar a Ucrânia a investigar seus rivais políticos domésticos.
A confirmação de um novo denunciante vem a público dias após uma série de manifestações de insatisfação dentro do próprio Partido Republicano com Trump, depois de o presidente fazer um pedido público para Pequim investigar o filho de Biden, que tamb[em tinha negócios na China. Os senadores republicanos dos EUA, Mitt Romney, Ben Sasse e Susan Collins, expressaram preocupações sobre Trump pedir a países estrangeiros para ajudá-lo em sua candidatura à reeleição em 2020.
Outros republicanos, contudo, apoiaram firmemente o presidente, repetindo o seu argumento de que não houve nada de errado em seu telefonema à Ucrânia e descartando o seu chamado à China como uma piada, mesmo se o presidente continua a insistir nessa questão.
— Duvido que o comentário na China tenha sido sério para lhe dizer a verdade — disse o senador republicano Roy Blunt à CBS.
A Casa Branca não respondeu a um pedido de comentário, mas Trump o atacou no sábado à noite, como alguém que “escutou informações de segunda mão” e distorceu suas intenções. “A primeira informação de segunda mão 'Denunciante' entendeu minha conversa por telefone quase completamente errada, agora a palavra é que eles estão indo para o banco e outro 'Denunciante' está vindo do Deep State, também com informações em segunda mão” Trump escreveu no Twitter no sábado, referindo-se ao seu agora infame telefonema com o presidente Volodymyr Zelensky da Ucrânia, no qual ele se apoiou em Zelensky para investigar Joseph R. Biden Jr., ex-vice-presidente e atual presidente candidato, bem como seu filho Hunter Biden. "Mantenha-os chegando!"
O advogado pessoal de Trump, Rudolph W. Giuliani, enquadrou as notícias do novo denunciante no domingo como um golpe político no presidente. "Advogado democrata SURPRESA tem outras fontes secretas" Giuliani escreveu noTwitter.Ele acrescentou que o ponto principal é que não a pressão de Trump a autoridades ucranianas não envolvia "contrapartidas" e chamou a história de "CAMPANHA DEMOCRATA ORQUESTRADA, COMO KAVANAUGH", referindo-se às alegações de má conduta sexual contra o juiz Brett Kavanaugh durante sua audiência de confirmação na Suprema Corte.
Trump alegou que Hunter Biden beneficiou-se em seus negócios na Ucrânia e na China da posição de seu pai, e que Joe Biden, como vice-presidente, pressionou a Ucrânia a demitir um promotor para impedir uma investigação de uma empresa ligada ao seu filho. O presidente também disse que a Ucrânia teve envolvimento nas eleições americanas de 2016, e gostaria que isto fosse investigado. Não há evidências conhecidas de irregularidades em ambos os casos.
O porta-voz de Biden, Andrew Bates, disse que Trump "mandou seu governo em uma espiral descendente, tentando intimidar um país estrangeiro a espalhar uma teoria da conspiração amplamente desmentida", e previu que Trump perderia pelo "caminho antigo e conhecido: uma intervenção de seu próprio país — cortesia do povo americano — em 2020", em referência às eleições. O Globo.