Disputa por prefeitura do Recife acirra tensão entre Bolsonaro e presidente do PSL

O presidente Jair Bolsonaro ao lado do presidente do PSL, Luciano Bivar em encontro da bancada do partido Foto: Marcos Corrêa / Presidência / 20-02-2019
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do presidente do PSL, Luciano Bivar em encontro da bancada do partido Foto: Marcos Corrêa / Presidência / 20-02-2019

BRASÍLIA — A queda de braço que colocou em campos opostos o presidente Jair Bolsonaro e o dirigente nacional do PSL , Luciano Bivar (PE), em meio a disputas pelo controle dos recursos milionários do fundo partidário e pelo domínio político da segunda maior bancada na Câmara, tem um ingrediente regional: a disputa pela Prefeitura do Recife. Maior colégio eleitoral de Pernambuco, com mais de um milhão de eleitores, a cidade é reduto de Bivar, ex-cartola do Sport Clube Recife, que estuda uma candidatura própria ou de um aliado. Bolsonaro, no entanto, quer emplacar o presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Gilson Machado Neto, para substituir o prefeito Geraldo Júlio (PSB).
A disputa velada é mais um ponto de tensão na relação implodida que se instalou entre Bolsonaro e Bivar desde a semana passada, quando o presidente da República afirmou a um apoiador que o dirigente do PSL estava "queimado para caramba". A declaração, feita em público, despertou a ira de Bivar e escancarou a crise interna que pode levar à saída de Bolsonaro da sigla. O dirigente do PSL tem dito que considera cedo para discutir eventuais nomes de postulantes à vaga de prefeito do Recife.
Apoiado por Bolsonaro, Machado já foi orientado pelo presidente a mudar seu domicílio eleitoral de Gravatá, cidade localizada a 80 quilômetros da capital pernambucana, para o Recife. Tem até abril do próximo ano para realizar a mudança, na esteira da janela de transferência autorizada pela Justiça Eleitoral. Ele tem é formado em medicina veterinária pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), além de criador de gado em Tocantins.
Além disso, o ruralista não esconde a disposição de concorrer à prefeitura, caso convocado pelo presidente. No Recife, ele se considera como o legítimo herdeiro do bolsonarismo na eleição marcada para outubro de 2020, com discurso afinado com o do ex-capitão. Machado tem criticado a esquerda e defendido as bandeiras de Bolsonaro, considerando o Estado "ideologicamente contaminado".
Dizendo-se um homem de missão, Machado garante que está focado no objetivo de melhorar os números do turismo no Brasil, mas garante que atenderá a um pedido de Bolsonaro, caso seja feito, sobre disputar um cargo no ano que vem.
- A Prefeitura não precisa ser decidida agora. Quem tem prazo não tem pressa. Sou de missão, como sempre fui. Não é de hoje que estou ao lado do presidente, para o que der e vier - disse.
Segundo ele, o momento agora é de foco "na missão na Embratur, na recuperação econômica do país pelo turismo como política de Estado". Entre metas traçadas por Machado, que podem alavancar uma eventual candidatura, está "rapidamente duplicar o número de turistas estrangeiros". Para isso, pretende transformar a Embratur em uma estrutura de agência, isentar de vistos chineses e indianos, estimular o turismo da terceira idade, entre outras medidas.

De aliado a inimigo da militância virtual

Na eleição de 2018, Bivar foi eleito deputado federal, o sétimo mais votado em Pernambuco, surfando justamente na onda de popularidade que levou Bolsonaro a quebrar uma sequência de quatro vitórias do PT no cenário nacional, duas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e duas com a ex-presidente Dilma Rousseff.
De aliado de primeira ordem, Bivar passou a algoz de Bolsonaro, sendo alvo de ataque da militância virtual do presidente. Procurado, o deputado não atendeu às ligações. Sua assessoria disse que ele não dará entrevista.
Dono da segunda maior bancada na Câmara, atrás apenas do PT, o PSL dispõe de uma fatia de R$ 103 milhões do fundo partidário para distribuir entre a direção nacional e os diretórios regionais. Além disso, deverá receber cerca de R$ 200 milhões do fundo eleitoral em 2020. Os dados estão disponibilizados no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O recurso é considerado vital para eleger o maior número de prefeitos pelo partido e construir uma base sólida visando as eleições presidenciais de 2022.
De acordo com a lei, 48% dos recursos são divididos entre os partidos com base no número de representantes eleitos para a Câmara, sem considerar mudanças ao longo do mandato. O Globo.